sábado, 10 de maio de 2025

Ilustres desportistas macaenses

Este post foi inspirado num leitor do blogue que me enviou duas fotografias de macaenses que foram futebolistas da Académica de Coimbra.
Dito isto, falemos então de quatro ilustres futebolistas macaenses da primeira metade do século 20: António Maria da Conceição (n. 1910), Vítor Augusto de Sousa (n.1918), Joaquim Pacheco (n. 1926) e Augusto Rocha (n. 1935).

António da Conceição
Nascido em Macau em 1910, António Maria da Conceição foi no território, ainda jovem, atleta de várias modalidades, com maior destaque no atletismo sendo várias vezes campeão pelo Liceu. 
No final da década de 1920 foi para Portugal tirar o curso de Filologia Românica na Faculdade de Letras de Lisboa. No clube do coração, o Sporting, singrou não só no atletismo ( campeão nacional de estafetas 5 x 80m em 1928 e 1930), como também no futebol chegado a alinhar pelas reservas do Sporting. 
Regressado à terra natal em 1939 tornou-se seleccionador e treinador da Selecção de Macau, foi presidente da filial do Sporting para além de professor e jornalista.
Morreu em 1985. Em 1991, pelo seu desempenho em prol do desporto local, foi condecorado a título póstumo com a Medalha de Mérito de Macau.

Sobre Vitor Augusto de Sousa, nascido em Macau em 1918, só tenho a informação que jogou na Académica de Coimbra.

Joaquim Pacheco
Joaquim Pacheco nasceu em Macau a 30 de Março de 1926. Começou por jogar no Argonauta e depois no grupo Desportivo da Polícia de Macau onde esteve entre 1946 e 1949. Um ano depois, em Abril de 1950, recomendado por António da Conceição (dirigente do Sporting de Macau) chegava ao Sporting (de Lisboa) com 24 anos O primeiro jogo, como avançado, foi a a 17 de Setembro desse ano, no Estádio Nacional, frente ao Benfica. A partir de 1952 fixou-se na linha de defesa.
Consta que recebeu convites do Benfica, Desportivo de Lourenço Marques e do Eastern Sports de Hong Kong. 
Jogou oito épocas no Sporting (156 jogos e 8 golos) e foi quatro vezes campeão nacional. Foi chamado uma vez a representar a Selecção Nacional, a 21 de Dezembro de 1957, em Milão, em jogo de apuramento para o Campeonato do Mundo. No final da temporada de 1958/59, com 33 anos, saiu do Sporting e regressou a Macau onde trabalhou muitos anos no Hotel Lisboa. Em 2006 foi distinguido com o Prémio Stromp na categoria Saudade.

Sporting de Macau 1953/54: Rocha é o 1º da esquerda em baixo

Augusto Rocha nasceu em Macau a 7 de Fevereiro de 1935. Chamavam-lhe “Lou Fu Chai”, o “Pequeno Tigre”, alcunha do pai. Começou a jogar futebol no Negro Rubro em 1952 e na época seguinte transferiu-se para o Sporting de Macau na altura dirigido por António da Conceição que em 1954 será o grande responsável pela ida de Rocha para o Sporting Clube de Portugal.
Rocha era avançado e acabou por não vingar em Alvalade transferindo-se em 1956 para a Académica de Coimbra treinada na altura por Cândido de Oliveira. Em Coimbra teve sucesso a ponto de em 1958 os leões pretenderam contratá-lo de novo (Travassos estava no final da carreira). O que acabou por acontecer mas apenas em treinos já que a transferência não 
seria concluída. Em Coimbra jogou até 1971 num total de 373 jogos e marcou 59 golos.
Curiosidade:
O Restaurante Lung Wah abriu em 1976, empoleirado no nº 155 da Rua Cidade de Poitiers, Monformoso, Coimbra, é propriedade de Augusto Rocha.


sexta-feira, 9 de maio de 2025

Novo recorde de visitantes

No passado dia 7 de Maio o blogue Macau Antigo registou um novo recorde diário de visitantes com um total de 71 mil leitores. 

De acordo com a Blogger - plataforma onde o blogue está alojado - nesse dia a  maioria dos leitores teve origem no Vietname, Singapura, Hong Kong, EUA, Brasil, Macau, Portugal, Países Baixos e França.

Para se ter uma ideia do que este novo recorde representa, recordo que mensalmente o número de leitores do blogue ronda os 30 mil (cerca de mil por dia). Assim, e com apenas nove dias passados no mês de Maio é já certo que haverá um novo recorde de visitantes/mês. Nesta altura já são mais de 100 mil. Grato pela preferência!

quinta-feira, 8 de maio de 2025

D. João de Casal: 1641-1735

Dom João de Casal foi o bispo de Macau de 1690 a 1735, sendo o bispado mais longo da história da diocese (45 anos).
Nascido em Castelo de Vide em 1641 formou-se na Ordem de Santo Agostinho, doutorou-se em Teologia pela Universidade de Évora e foi nomeado bispo de Macau em 1690, com 49 anos. A nomeação foi feita pelo Papa Alexandre VIII a 10 de Abril de 1690. Pouco tempo depois, a 25 de Julho do mesmo ano, foi consagrado bispo em Lisboa, numa cerimónia que contou com a presença de figuras eclesiásticas importantes como o Arcebispo Emérito de Braga, Dom Veríssimo de Lencastre, o Arcebispo de Goa, Dom Agostinho da Anunciação, e o Bispo de Funchal, Dom José Saldanha.
Chegou a Macau em 1692, sendo o primeiro a usar o título de Bispo de Macau. Tomou posse da Diocese de Macau em 20 de Junho de 1692, após um período de cerca de 80 anos em que a diocese havia ficado sem bispo devido às tensões entre Portugal e Espanha
Em 1706 foi provedor da Santa Casa da Misericórdia.
Durante o seu bispado reorganizou a Diocese e fundou em 1698 o Cabido da Sé, uma medida importante para fortalecer a estrutura administrativa da Igreja local. Durante o seu tempo houve ainda um conflito com o Patriarca Tournon sobre a proibição de certos rituais chineses, levando a um período de tensões e excomunhões entre os diferentes grupos religiosos, com a expulsão dos agostinhos de Macau em 1712 e o regresso em 1721. Em 1715, o Papa Clemente XI, um apoiante de Tournon, emitiu a bula papal "Ex illa die", que condenava os ritos chineses como supersticiosos e incompatíveis com o catolicismo. Em 1720, D. João de Casal  teve que obedecer à bula papal, mediante a realização de um juramento nas mãos do legado papal Mezzabarba, que foi enviado à China para notificar oficialmente o Imperador e a Igreja chinesa sobre a decisão papa.
D. João de Casal exerceu ainda interinamente as funções de governador de Macau em 1735 (tomou posse a 15 de Janeiro), ano em que morreu no território, a 20 de Setembro. Tinha 94 anos. Foi sepultado na Sé, conhecida por Tai Miu Téng” (大廟頂)
Neste esboço - espólio do Museu de Arte de Macau - da autoria de George Chinnery (1774-1852), feito em Macau entre 1825 e 1852, pode ver-se a fachada lateral da igreja da Sé (Igreja da Natividade de Nossa Senhora). O esboço tem como legenda, escrita por Chinnery, "entry of Dr. Watson's house". Trata-se de Thomas Boswell Watson (1815-1860), médico (incluindo de Chinnery) e também pintor. Chinnery chegou a Macau em 1825 e Thomas Watson em 1845. A localização da cruz de pedra pode ser uma 'composição' do pintor inglês.
A cruz de pedra no largo frente à Sé numa foto ca. 1870

quarta-feira, 7 de maio de 2025

"Escola Pública de primeiras letras no Collégio de S. Jozé"

São raros os momentos em que os bens mais preciosos são oferecidos, principalmente a quem deles mais necessita. Por entre todas as riquezas que mais ambicionamos talvez encontremos a arte de ler e escrever.
Consta que, no início do século XIX, o Colégio de S. José, em Macau, tinha falta de mestres, estando assim impedido de cumprir uma das suas mais nobres missões. Ao mesmo tempo, na mesma época, do outro lado do mundo, alguém criava um novo método de ensino, sem professores, e a pensar em todas as crianças que poucos meios possuíam para além dos que garantiam a sua mínima subsistência, fazendo da escola uma miragem.
Joseph Lancaster, na longínqua Bretanha, lançava as sementes de um novo método de ensino que germinava em diferentes terras espalhadas pelo mundo, incluindo a pequena península de Macau.
O Colégio de S. José fez publicar um breve aviso nas últimas linhas, da última página, do jornal de 30 de maio de 1823. Era quase uma breve nota de rodapé que A Abelha da China transportava pela Cidade, um jornal que poucos saberiam ler e muitos, quando o miravam, apenas vislumbravam linhas indecifráveis e colunas que se confundiam com manchas negras sem significado. Eram as últimas linhas de um conjunto de notícias sobre Macau, dirigidas aos que, também no último degrau, aguardavam a oportunidade, quiçá única, de serem os primeiros.
Com este aviso, o Colégio anunciava mais uma tentativa para cumprir a sua missão de ensinar e Joseph Lancaster oferecia o caminho que haveria de ser seguido. No dia 2 de junho, daquele ano de 1823, Macau iria conhecer uma segunda-feira diferente, por certo mais iluminada. Avisavam-se os habitantes da Cidade que iria abrir uma Escola Publica de primeiras letras, recorrendo ao methodo de Ensino Mutuo: um professor ensinava um conjunto de alunos que, por sua vez, levavam a lição a outros alunos, dando origem a uma aprendizagem em cadeia, que procurava chegar a um número, sempre crescente, de crianças.
A escola era aberta a todos os meninos da Cidade, e sem nada contribuir para o Professor, porque o Governo disso se encarregaria. Excecionalmente, cada aluno apenas tinha de contribuir com uma simples pataca no início de cada trimestre, a começar no mês de julho, para suportar as despesas como cartas, papel, &a.. Mas, porque esta simples pataca significava riqueza para muitos, esta exceção tinha, também ela, uma outra exceção: Dos meninos pobres nada se exigirá.
Seguindo os ventos que sopravam do ocidente, aportava a Macau o ensino das primeiras letras, que iria agora chegar a todas as crianças da Cidade. Era o momento que lhes iria oferecer a possibilidade de lerem a sua terra, interpretarem a sua vida e escreverem a sua página no livro do mundo, daquele mundo que as aguardava num futuro próximo.
Texto de Alfredo Gomes Dias publicado na Newsletter de Maio de 2025 da Fundação Jorge Álvares.

terça-feira, 6 de maio de 2025

Emissão do BNU com referências históricas

No início de 2025 o BNU de Macau colocou a circular novas notas que incluem no design referências históricas, neste caso mapas antigos (do século 17 ao séc. 20). Segundo o banco, o design das notas "foi inspirado na história e evolução de Macau, mostrando o mapa do território durante diferentes eras e gerações". Com diferentes valores faciais, cada nota "conta uma história relacionada com a transformação da cidade, reflectindo a herança cultural única e o significado histórico que Macau representa".
Referência a 1635

Referência a 1780

Referência a 1869

Referência a 1949

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Aguarelas "Camoens Cave": original e cópia

A aguarela acima é do início do século 19 e foi vendida recentemente num leilão. Tem por base uma obra original que Thomas e William Daniell incluiram no livro "A Picturesque Voyage to India by the Way of China", publicado em Londres em 1810 (imagem abaixo). Os dois ingleses estiveram em Macau na década de 1790. Esta ilustração tem uma história muito curiosa que conto numa edição deste ano da Revista de Cultura.

Excerto do livro referido:

"Camoens Cave, Macao: It is delightful to discover in a remote corner of Asia an object like Camoens’ cave, consecrated to the memory of European genius. It is well known that the adventurous bard having too freely indulged his wit in satire, was disgraced by Francisco Barreto, the viceroy of Goa, and banished to Macao. Tradition still preserves some records of his residence. The stranger is still led to the top of the rock where he was accustomed to walk, and where the summer-house is now erected, commanding a view of the harbour of Macao: but it was in this romantic cave that he delighted to spend his leisure hours, forgetting past and present hardships in the luxurious exercise of his imagination. His exile was softened by the kindness he experienced; and he obtained a lucrative appointment, which enabled him in five years to realize a considerable fortune: but, like Spenser, he lost his all in shipwreck; and finally returned to Portugal as poor as he left it. He died at Lisbon in 1679, in his sixty-second year. (...)"

domingo, 4 de maio de 2025

Diário de Bordo do "Earl of Balcarras": 1840

A imagem é a reprodução da capa do diário de bordo do navio "Earls of Balcarras" durante a primeira guerra do ópio entre ingleses e chineses.

Com o conflito iniciado em 1839 vários navios partem de Inglaterra para se juntar à frota inglesa na China. O Earl of Balcarras, da EIC - Companhia Britânica das Índias Orientais - foi um deles. Partiu de Londres em Setembro de 1840 e chega a Bombaim apenas a 25 de Maio de 1841. Em Julho já está junto ao que viria a ser Hong Kong. No diário de bordo o comandante Alexander Bayne regista um tufão:
"(...) one of the severest typhoons ever felt in China, the whole fleet of ships driving about in all directions, some without masts which had been cut away & others flying to the shore as if they were tired of the tempest & there lodging ... on the rocks ... next morning the sight was horrible dead bodies floating about in all directions & several noble ships on shore ... had the typhoon lasted 20 minutes more we would have all been on shore (...)"

"(...)um dos tufões mais severos alguma vez sentidos na China, toda a frota de navios a navegar em todas as direções, alguns sem mastros que tinham sido cortados e outros a voar para a costa como se estivessem cansados ​​da tempestade e ali alojados... nas rochas... na manhã seguinte a visão foi horrível: corpos a flutuar em todas as direções e vários navios na costa... se o tufão tivesse durado mais 20 minutos, estaríamos todos na costa (...)"

Passada a tempestade, a viagem prossegue rumo a Whampoa, uma pequena ilha já muito perto de Cantão:
"(...) moored ship at the new anchorage close by the 1st bar large ships not being able to pass over on account of the Chinese having sunk Junks with stones in them in order to block the passage up so as to make themselves secure from the infuriated Barbarians as they are graciously pleased to call us ... during our stay here we remain in constant dread of the Chinese fearing that they might break their good faith with us but no such thing ... however they had plenty of troops stationed round us to see that we did the same (...)"

" (...) navio atracado no novo ancoradouro junto à primeira barra, os navios de grande porte não conseguiam passar porque os chineses tinham afundado juncos com pedras para bloquear a passagem e se protegerem dos bárbaros enraivecidos, como gentilmente nos chamam... durante a nossa estadia aqui, mantivemo-nos em constante medo dos chineses, temendo que quebrassem a sua boa-fé connosco, mas tal não aconteceu... no entanto, tinham muitas tropas estacionadas à nossa volta para garantir que fazíamos o mesmo (...)"

Earl of Balcarras ca. 1811 - 1488 toneladas

Nesta altura a guerra ainda existia mas só no papel, porque na prática os combates já tinham terminado quase todos. Em Janeiro de 1841 foi assinada a chamada Convenção de Chuenpi, documento em que a China cede a ilha de Hong Kong à Grã-Bretanha. Este acordo seria posteriormente formalizado no Tratado de Nanquim em 1842. Os britânicos tomaram posse formal de Hong Kong a 26 de Janeiro de 1841, hasteando nesse dia a bandeira da Union Jack na ilha de Hong Kong. A zona costeira de Kowloon seria 'conquistada' na segunda guerra do ópio.

sábado, 3 de maio de 2025

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Fotografia na década 1920

Inaugurada em 1918 a Av. Almeida RIbeiro/San Ma Lou depressa se consolidou como 'alternativa' na oferta comercial à Rua Central, concentrando grande parte da oferta da cidade. No caso da fotografia em 11 espaços comerciais, seis estavam localizados nesta avenida que atravessa o centro histórico e liga os portos interior e exterior.
1926

1926
Outros fotógrafos/lojas de fotografia:
Cheang Kei (Rua da Cadeia); Tong Fong (Rua da Palha); Kai Chong (Av. Almeida Ribeiro); Iun Chun (Av. Almeida Ribeiro), Bright Star Studio (Av. Alm. Ribeiro); Meng Hut Ian (Av. Alm. Ribeiro); Iun Sang (Travessa Auto Novo); Lai Va (Largo do Senado); Man Fok (Av. Alm. Ribeiro), Loo Chan (Av. Almeida Ribeiro); Neves Catela.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

Antes e Depois: troço da rua do Almirante Sérgio

 

Detalhe da fotografia: viatura com a matrícula M-20-90; placards publicitários de marcas como Sprite, Ice Cream Soda e a conhecida marca de bebida de leite de soja, a Vitasoy (caracteres brancos sobre fundo vermelho) criada em Hong Kong em 1940.
Anúncios semelhantes existiam noutras zonas da cidade: Rua do Campo, Largo do Senado, Av. Almeida Ribeiro, etc..

Troço da Rua do Almirante Sérgio num fotografia de John Hansen em 1967. Junto à estrada, para além das embarcações pode ver-se o processo de secagem do peixe. Do lado esquerdo ficava a ponte-cais nº 5 (da empresa Nam Kwong) e a Fábrica de Águas Gasosas Asia (assinalada na imagem).
Em 2021
Mapa actual da zona

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Recordações fotográficas da década 1950

Edifício CTT

Templo de A-Ma

Vista da cidade

Templo de A-Ma

Jardim Camões

Ponte-cais nº1 (Largo do Pagode da Barra)

Estátua Ferreira do Amaral

Autocarro nº 5 no Largo do Pagode da Barra

Jardim S. Francisco (Biblioteca pública chinesa) e Santa Rosa de Lima

terça-feira, 29 de abril de 2025

Documento manuscrito de 1849


Este documento manuscrito em Macau com a data de 6 de Setembro de 1849 parece ser uma tradução de um documento enviado para John W. Davies (cônsul dos EUA em Cantão) pelo governador/mandarim da província de Cantão a propósito do assassinato do governador de Macau, João Ferreira do Amaral (1803-1849) que ocorreu pouco tempo antes, a 22 de Agosto de 1849.

Excerto:
" (...) I Sen Kwang Tsin, Hereditary Lord of the first grade, Governor General of the two Kwang Provinces, a President of the Board of War, Minister & Commissioner of the Ta Tsing Empire…acknowledge the receipt of the Honorable Envoy's dispatch…your Honorable Nation (United States) should, for the time being, bring its Naval force to the harbor of Macao, for the protection of its citizens, and their property, is in accordance with Celestial principles and the common sense of mankind, and I, have not the slightest suspicion…your Honorable Government to maintain its neutrality, and to have no treaties of Alliance…to pursue peace…As to the murder of the Portuguese Colonel…I, the Minister…offer a reward for the vigorous arrest of the murderers…make a secret search and to arrest them, & that absolutely they must take the Colonel's head and arm, and to produce them without delay. (...)"

Tradução/Adaptação:
" (...) Eu, Sen Kwang Tsin, Lorde Hereditário de primeiro grau, Governador Geral das duas Províncias de Kwang, Presidente do Conselho de Guerra, Ministro e Comissário do Império Ta Tsing... confirmo o recebimento do despacho da Vossa Honorável Nação (Estados Unidos) deve, por enquanto, trazer sua força naval para o porto de Macau, pois a protecção dos seus cidadãos e de suas propriedades está de acordo com os princípios celestiais e o senso comum da humanidade, e eu não tenho a menor suspeita... de que o Vosso Honorável Governo mantenha a sua neutralidade e não tenha tratados de Aliança... de que busque a paz... Quanto ao assassinato do Coronel português... eu, o Ministro... ofereço uma recompensa pela prisão vigorosa dos assassinos... que façam uma busca secreta e os prendam, e que eles devem fazer a entrega da cabeça e o braço do Coronel e apresentá-los sem demora. (...)"

Nota: A 16 de Janeiro de 1850, depois de entregues pelas autoridades de Cantão, foram recebidas em Macau a cabeça e a mão do Governador João Maria Ferreira do Amaral.

Contexto:
Em 22 de agosto de 1849 passeava Ferreira do Amaral desarmado junto do posto do Cerco quando um bando de assassinos o atacou e o trucidou cruelmente cortando-lhe a cabeça. Uma guarda de soldados chinas que estava ali perto em vez de defender o governador mostrou que estava ali para auxiliar o assassinato; ao mesmo tempo uma força militar portugueza que foi occupar o posto do Cerco recebia o fogo do forte de Passaleão que os portuguezes atacaram e tomaram de assalto. Envergonhados de tomarem a responsabilidade de acto tão covarde os mandarins reconheceram o direito que assistia aos portuguezes de se queixarem e de se reputarem offendidos. Desde esta época a independencia de Macau tornou-se inviolavel. O mandarim que residia em Macau e que por vezes tinha exercido funcções que offendiam os direitos soberanos portuguezes abandonou o seu posto e nunca mais foi substituido. As Alfandegas chinas nunca mais estabeleceram delegações no territorio portuguez. A soberania portugueza foi confirmada pelo sangue do heroico governador Ferreira do Amaral."
Excerto de "Estudos sobre as provincias ultramarinas", João de Andrade Corvo, 1887.

segunda-feira, 28 de abril de 2025

"Fotógrafo japonês"

Este anúncio publicado no jornal "A Pátria" em 1927 informa sobre a passagem por Macau durante cinco dias de um "exímio fotógrafo japonês" e que "estará à disposição de quem desejar os seus serviços". A Livraria Po Man Lau, localizada no Largo do Senado, era não só livraria como também tipografia e um espaço comercial com todo o tipo de produtos relacionados com a actividade fotográfica, desde a venda de rolos à revelação de fotografias. Também vendia e produzia postais ilustrados.
 

domingo, 27 de abril de 2025

Leitura de uma litografia

A legenda desta litografia de C. Graham publicada em Londres cerca de 1840 é: "Public walk & Chinese tombs, Macao". Ou seja, "Passeio público e sepulturas chinesas em Macau". A litografia é uma entre várias de uma colecção intitulada "Sketches in China", atribuída a James Wyld, geógrafo da rainha, feita em Charing Cross (Londres) a 3 de Agosto de 1840.
Em primeiro plano do lado direito estão sepulturas chinesas numa colina e um palanquim/liteira. Ao fundo a colina de Mong Ha. Alguns edifícios representam as pequenas aldeias chinesas existentes nesta zona de Macau, nomeadamente Patane e Mong Ha, já muito perto do istmo que conduzia à Porta do Limite/Cerco. 
Ao centro, são representadas vários pessoas a andar a pé e a cavalo. Era a zona mais ampla da península para se poder andar a cavalo e abundantemente referida em testemunhos da época, nomeadamente dos ingleses, que na altura estava em guerra com a China por causa do ópio. A vasta extensão corresponderá ao que na altura se denominava a Estrada do Campo (daí mais tarde o nome Rua do Campo...) e corresponde sensivelmente à actual Av. de Sidónio Pais, mas que antes de receber este nome, denominava-se Alameda Vasco da Gama (ca. 1898) tal era a largura e comprimento da mesma.
Archibald R. Ridgway, médico britânico, visitou Macau e Hong Kong em 1843 deixando testemunho dessa passagem em artigos na imprensa - num total de 12 - intitulados "Letters from Kong Kong and Macao" publicados em 1844. O excerto que se segue parece ter sido escrito para esta litografia....
"The Campo is of considerable extent and surrounded by irregularly shaped hills whose rocky sides are completely covered with Chinese graves, all of which are of the lower classes and marked by mere headstones or grassy mounds presenting but little of the very characteristic appearance of those of the higher ranks. After joining the horse road, we pass a Chinese village and also for a few yards between two very fine bamboo hedges on leaving which the road winding round an isolated hill terminates on a fine piece of sandy beach that runs along the narrow neck of land co necting the Peninsula with the mainland and on which the Barrier is built. The races are held on this beach and it affords an opportunity for a capital gallop especially now when no one hesitates to pass through the broken down barrier wall for no guard has been near it since it was attacked by the British on the 19th of August 1840 when the Chinese received a rather severe and unexpected lesson. Before that time a close approach to it even was looked upon with distrust and indignation by the celestials who were stationed there in order to guard the central land from profanation by barbarian footsteps. (...)"

Tradução/Adaptação:
"O campo tem uma extensão considerável e está rodeado de colinas de forma irregular, cujas encostas rochosas estão completamente cobertas por sepulturas chinesas, todas elas das classes mais baixas e marcadas por meras lápides ou montes relvados, apresentando pouco do aspecto característico das de classes mais altas. Depois de entrar na estrada para cavalos, passamos por uma aldeia chinesa e também por alguns metros entre duas sebes de bambu muito finas, ao sair dela a estrada que serpenteia em torno de uma colina isolada termina num belo pedaço de praia arenosa que corre ao longo do istmo, pedaço de terra que liga a península ao continente e no qual a barreira (Porta do Limite/Cerco) está construída. As corridas são realizadas nesta praia, que oferece uma oportunidade para um galope espetacular, especialmente agora que ninguém hesita em passar a barreira quebrada, pois nenhum guarda esteve perto dela desde que foi atacada pelos britânicos a 19 de Agosto de 1840, quando os chineses receberam uma lição bastante severa e inesperada. Antes disso, até uma mera aproximação era vista com desconfiança e indignação pelos celestiais que ali estavam posicionados para proteger a terra continental  da profanação provocada pelos passos dos bárbaros."


Edital de 1830 assinado pelo Mandarim da Casa Branca proibindo as corridas de cavalos em Macau:
"Leu, the haong shan magistrate, promoted ten steps and marked with approbation ten times hereby issues a severe interdict. During the first decade of the third moon being on public business at Macao I saw with my one eyes the fo reigners in the sands at the barrier running horses for sport. But there is at that place a road which is a thoroughfare and it is apprehended that the foot passengers may be injured which would lead to disturb ances between the flowery Chinese and barbarous foreigners. I therefore command the Macao linguist to convey my orders to the barbarian eye requiring him to prohibit strictly these proceedings. However after this it appears the said barbarians run races and made sport a second time. This really is most unlike serious business. Nevertheless excusing what is past I hereby issue a strict interdict and order all the barbarians of Macao to know that hereafter they must obey the laws and regulations of the celestial empire and must not any more run races for sport at the thoroughfare on the sands near the barrier, because it may lead to injuring the foot passengers and causing a disturbance. After issuing this proclamation let every one implicitly obey. If any presume to oppose he will be seized with rigour and severely punished. Don t say that you have not been told before hand. Taou Kwang 9th year 3d moon 25th day 28th April".

sábado, 26 de abril de 2025

Av. Inf. D.Henrique/Praia Grande/San Ma Lou: 1967

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Cruzamento da Av. Almeida Ribeiro/Praia Grande/Av. Infante D. Henrique em 1967 num fotografia de John Hansen. Ao centro destaca-se o Hotel Central e os néons publicitários do Largo do Senado. O anúncio Viceroy está numa das entradas do Hotel Riviera (esquina da Praia Grande com a San Ma Lou). En frente à outra entrada do hotel ficava o restaurante Solmar. Vê-se parte do edifício dos CTT e do lado direito o BNU - com a bandeira de Portugal - e as típicas arcadas. Ainda à direita, as janelas quadriculadas são do cinema Nam Van, inaugurado poucos anos antes. Havia outros cinemas: Império, Oriental, Apollo, Roxy, Alegria, Lai Seng, Capitol, Vitória, etc.. A viatura em primeiro plano parece ser do Governo. A indumentária dos transeuntes sugere que a fotografia foi tirada no Outono/Inverno. A imagem permite ainda ver riquexós, bicicletas, motorizadas e um autocarro (vermelho). Do lado direito o néon da Kodak é a localização da Foto Princesa, a conhecida empresa de revelação de fotografias e venda de rolos fotográficos. O néon publicitário do lado direito 'sinaliza' a Esplanada Waltzing Matilda, fundada por um australiano.

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Testemunho sobre o 25 de Abril

Testemunho de Manuel Tomé
"Estava eu em Macau. Era estudante no Liceu Nacional Infante D. Henrique e trabalhava em part-time como locutor na Radiodifusão de Macau. Prestes a sair de serviço, ouvi tocarem as campainhas - sinal de notícias importantes - dos faxes da Reuters e France Press. Em língua inglesa e francesa, noticiavam ambas as agências, que se dera um "coup-de-état" em Portugal. Tanto uma como outra das agências noticiosas, usavam a terminologia francesa.
Surpreso, liguei para casa do Sr. Alecrim - pai da Hortense Alecrim -, dando conhecimento. E pela manhã, estava eu e o Sr. Alecrim no Palácio do Governo e perante o Governador de Macau. Fui apresentado como a pessoa que tinha alertado para o facto. Após cerca de meia-hora de reunião, determinou o General Nobre de Carvalho, que devíamos, ambos, ficar calados sobre a notícia.
Mas foi impossível, manter tal estado de coisas - quanto mais não fosse por que de Hong Kong e através das rádios locais e televisão, não se falava de outro assunto. Todavia e em Macau, só três dias depois, tal facto, passou (oficialmente) a ser de conhecimento público. Não tinha eu, 16 anos de idade e fazia - com muito orgulho - parte da história de Portugal em Macau. E isso, não vou nunca esquecer - até por toda emoção que vivi."
Campo dos  Operários, Hotel Lisboa, Liceu, Estátua gov. Ferreira do Amaral e padrão henriquino frente ao liceu (canto inferior direito). A Ponte Macau-Taipa/Nobre de Carvalho foi inaugurada em Outubro de 1974


A este propósito recordo um excerto de uma notícia da agência Lusa de 2024:
"Quando há 50 anos Portugal saiu à rua para celebrar o fim da ditadura, foi um músico do regime que revelou a novidade em Macau, onde o alcance do Estado Novo não se sentia da mesma forma.
Rui de Mascarenhas atuava no Mermaid, um clube noturno no Hotel Lisboa, em Macau, quando a Revolução dos Cravos derrubou a ditadura a mais de dez mil quilómetros. E foi através deste “cantor do regime”, nascido em Moçambique, que a notícia chegou ao centro do poder do território, conta à Lusa o investigador da história de Macau João Guedes.
Mascarenhas deu a novidade ao então diretor da Emissora de Radiodifusão de Macau (atual Rádio Macau) Alberto Alecrim, que a transmitiu ao governador José Nobre de Carvalho. Só mais tarde a informação da liberdade chegou a todos, através de um noticiário da rádio britânica BBC, “retransmitido pelas estações de rádio de Hong Kong”.
Esta é a “história corrente” de como abril de 1974 alcançou Macau. Mas e como é que a notícia foi comunicada a Mascarenhas?
“Eu só vejo uma hipótese que é a seguinte: ninguém tinha telefones para ligar para Lisboa, a não ser a tropa. Terá ido aos correios telefonar para alguém?”, sugere.
Nobre de Carvalho abandonou o posto nesse mesmo ano, mas não imediatamente após Abril, “ao contrário dos outros governadores das colónias”, provavelmente pelo caráter “não extremista” e por não ter sido “ostensivamente defensor de Salazar”, analisa o investigador. (...)"
Rua 25 de Abril em Macau - perto da Praça do Lago Sai Van
Foto (recente) de Luís Almeida Pinto

quinta-feira, 24 de abril de 2025

Na véspera de Abril de 1974

Através de uma leitura breve por várias edições do jornal Notícias de Macau - "visado pela censura" - aqui ficam alguns elementos sobre o território na véspera do 25 de Abril de 1974. O jornal custava na altura 40 avos.
Entre os anunciantes assíduos nas páginas do jornal estavam o Hotel Central, o restaurante Fat Siu Lau, a Farmácia Popular (Largo do Senado como tel. 3739), a Tai Fong - cambistas, ourives e joalheiros (Av. Almeida Ribeiro) e o Banco do Oriente, na altura ainda com sede provisória no 1º andar do Hotel Lisboa.
Uma visita às "inolvidáveis ilhas da Taipa e Coloane" ou uma ida ao cinema - Império, Nam Van ou Apollo" eram algumas das possibilidades para ocupar os tempos livres.
Os ferrys Chung Shan, Nam Shan, Wah Shan e Tai Shan, da empresa Shun Tack, asseguravam as ligação marítimas entre Macau e Hong Kong, atracando no Porto Interior. O Porto Exterior era utilizado pelos hidroplanadores Guia, Penha, Taipa, Patane, Cacilhas, etc... Efectuavam cerca de 20 viagens diárias entre as duas cidades, apenas durante o dia.
No início de Macau anunciava-se a realização entre 16 e 17 de Novembro de 1974 de mais uma edição do Grande Prémio de Macau.
O Hotel Lisboa, na altura com apenas 4 anos de existência, proporcionava várias ofertas de entretenimento. Para além do clube nocturno Mermaid, entre 1 e 7 de Março, a artista Jezabel dava um espectáculo no restaurante "Portas do Sol", um dos vários restaurante do hotel.
A STDM era proprietária do Hotel Lisboa e também do Estoril (o primeiro), os dois com casino. O hotel Sintra estava prestes a ser inaugurado. Tinha ainda o casino flutuante "Macau Palace" no Porto Interior.